CESARIANA DE EMERGÊNCIA COM PRESERVAÇÃO UTERINA EM CADELA COM DISTOCIA PROLONGADA

  • Autor
  • Silvio Luiz Demarchi
  • Resumo
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    A distocia é uma emergência obstétrica frequentemente observada na clínica de pequenos animais, caracterizada pela dificuldade ou incapacidade de concluir o parto sem intervenção médica. Suas causas podem ser maternas, como inércia uterina primária, estreitamento do canal pélvico ou malformações, ou fetais, como macrossomia, mal posicionamento ou morte intrauterina. Quando o trabalho de parto se prolonga por mais de 24 horas, há um aumento expressivo no risco de sofrimento fetal, necrose uterina, septicemia e morte materna. Nesses casos, a cesariana de emergência torna-se indicada, com o objetivo de preservar a vida da fêmea e, quando viável, dos neonatos. A decisão cirúrgica deve levar em consideração o tempo de evolução da distocia, a condição clínica da cadela e a viabilidade fetal. A abordagem pela linha média ventral é amplamente empregada por permitir acesso rápido e seguro ao útero. A preservação uterina pode ser considerada em fêmeas jovens ou com interesse reprodutivo, desde que não haja sinais evidentes de necrose, ruptura ou infecção uterina grave. Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de cesariana de emergência em cadela com distocia prolongada, enfatizando a avaliação clínica, a técnica cirúrgica empregada e a viabilidade da preservação uterina. Uma cadela, blue heeler, 4 anos, 30 kg, não castrada, foi atendida apresentando secreção vaginal, prostração e ausência de contrações efetivas, com histórico de início do parto há aproximadamente 36 horas. Ao exame físico, observou-se desidratação, hipotermia e mucosas normocoradas. A ultrassonografia abdominal evidenciou um único feto, sem batimentos cardíacos, localizado no corno uterino esquerdo. Exames laboratoriais revelaram leucocitose por neutrofilia. Após estabilização com fluidoterapia com ringer com lactato na taxa de 75 mL/h, analgesia multimodal com dipirona 25 mg/kg, cloridrato de tramadol 4 mg/kg e com meloxicam 0,1 mg/kg e antibioticoterapia profilática com amoxicilina com clavulanato de potássio 25 mg/kg, a paciente foi submetida à laparotomia ventral mediana retro-umbilical. O útero foi exposto, apresentando integridade preservada, sem sinais de necrose, ruptura ou exsudato purulento. Realizou-se histerotomia longitudinal no corno uterino esquerdo, entre os vasos arciformes do corno uterino, com remoção do feto natimorto e placenta. A sutura uterina foi executada em duas camadas, contínua simples e invaginante (cushing), utilizando fio monofilamentar absorvível 3-0 de polidioxanona. O útero foi preservado devido à ausência de alterações, e o fechamento da parede abdominal foi realizado em três planos anatômicos (Linha alba através de sutura contínua simples, tecido subcutâneo com sutura intradérmica contínua e pele com sutura horizontal em “U” de Wolff). A paciente apresentou recuperação anestésica e pós-operatória satisfatória, sem intercorrências, e recebeu alta após 48 horas com prescrição de amoxicilina com clavulanato de potássio 25mg/kg e com meloxicam 0,1mg/kg. No acompanhamento após 15 dias do procedimento, não foram observadas alterações. Conclui-se que a cesariana de emergência, mesmo em casos de distocia prolongada, pode resultar em desfecho positivo mesmo em distocias prolongadas, desde que haja avaliação criteriosa da viabilidade uterina. Neste caso, a preservação do útero foi possível e bem-sucedida, decisão especialmente importante para pacientes com potencial reprodutivo, devendo ser sempre individualizada conforme as condições clínicas do paciente.

  • Palavras-chave
  • Cesariana, distocia, emergência obstétrica
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